Ausentes e seus Cânions

Desde muito tempo que queríamos conhecer a região dos Cânions na divisa entre SC e RS, e decidimos que 2017 seria o ano de realizar esse desejo.

Como já pretendíamos sair da cidade no Carnaval, esse foi o feriado escolhido para irmos para as proximidades de São José dos Ausentes pedalar e acampar. Pegamos preciosas dicas da região com o amigo Sander, que sabíamos já ter pedalado muito por ali.

Saímos de carro de  Floripa no sábado bem cedo, e as 10h já estávamos no mirante da magnífica Serra do Rio do Rastro, ali tomamos um café e seguimos para a Rota dos Cânions, após 66 quilômetros de estrada de chão em precária situação. Chegando na comunidade de Silveira (aprox. 20km antes de São José dos Ausentes), a fome já batia no estômago, passamos em frente a um restaurante aberto e decidimos almoçar lá mesmo, até porque era o único da localidade. Durante o almoço, revisamos nosso roteiro e resolvemos que ali seria o início da pedalada, pedimos autorização ao dono do restaurante para deixar o carro na frente de seu estabelecimento até terça feira e então saímos com as bikes já carregadas rumo à nossa aventura.

Saindo da comunidade do Silveira.

O objetivo nesse dia era pedalar 15 km até o Cânion Amola Faca, que fica dentro de uma propriedade particular e pedir autorização para acampar lá, em algum local que nos permitissem montar a barraca. Seria nossa primeira experiência de camping sem estrutura de banheiro, cozinha e tal, o famoso “camping selvagem”.

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Aqui a estrada era bem boa… 😛

Bem, 15 km parecem muita moleza pra um dia de cicloviagem né? Só que não! Saímos sob um lindo sol e logo depois que saímos da via principal a estrada vira um pedregulho só, as pequenas subidas me faziam descer da bike, que dançava sobre as pedras e a qualquer bobeira ameaçavam me jogar no chão. Mas devagar a gente chega, afinal serão só 15 km!

Atravessando um dos muitos riachos que cruzavam o caminho

Então em minutos começa a acontecer um fenômeno muito comum na região, a viração! Uma serração nos cobre, uma garoa fina e o frio começam a bater… Difícil enxergar mais que 5 metros a frente. Vamos seguindo, abrindo porteiras, encontramos um senhor trabalhando com uma máquina na estrada, fazendo com que a terra misturada à umidade virassem uma lama bem grossa, grudando nos pneus, corrente e tudo mais. Pedimos informação a ele pra sabermos se estávamos no caminho certo e tudo ok, era por ali mesmo. Quando a roda da bike já quase não gira mais, chegamos em frente uma casinha de madeira. Sabíamos que ali era a casa onde deveríamos pedir autorização, estava toda fechada, mas havia uma moto do lado de fora. Batemos palma, o cachorro começou a latir e logo em seguida aparece o Bruno. Começamos a conversar, ele de dentro da casa e nós na chuva… Falamos do nosso contato que havia nos indicado a procurá-lo, ele logo disse que éramos bem vindos e que poderíamos acampar em qualquer lugar ali mesmo perto da casa. O cânion? Nem lembrava mais dele ou de perguntar pra que lado ficava, pois nesse momento parecia que estávamos dentro de uma nuvem gigante, não se via nada ao redor e fazia muito frio. Nós estávamos já bem molhados por conta da viração e o Bruno então ofereceu para montarmos a barraca dentro do galpão ao lado da casa, ufa!  Bruno gosta muito de conversar e enquanto montávamos a barraca ele ficou ali conosco proseando. Logo nos ofereceu o seu banheiro emprestado par uma banho quente, wifi da sua internet por satélite (!!!) e água pra lavarmos as bicicletas que estavam simplesmente imundas… Santo Bruno!

 

Viração acontecendo

Após um banho quente, colocamos roupas secas e cozinhamos uma massa para a janta. Fomos dormir cedo, pois no dia seguinte Bruno nos recomendou acordar cedo e caso o tempo estivesse bom, caminhar até a borda do Cânion Amola Faca, a 1 km dali, antes que a viração aparecesse novamente, pois ela é comum nos meses quentes.

As 6h da manhã o dia clareava, olhei pra fora da barraca e vi que o tempo estava bom.
“- Ari, vamos levantar, vamos ver o cânion!” Fizemos café, colocamos na garrafa térmica e levamos para tomá-lo na borda do cânion. Depois de uns 15 minutos de caminhada começamos a ver os paredões de pedra… Uau!! Não consigo descrever o quão impressionada fiquei… Que maravilhoso!!

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Cânion Amola Faca

Ali ficamos uns 40 minutos, observando, tomando café, tirando muitas fotos.

Voltamos pra barraca, arrumamos tudo nas bicicletas e partimos para o nosso próximo destino a 18 km dali: Camping Toca da Onça. Conforme as dicas do Bruno, não precisávamos voltar para a estrada principal, podíamos chegar lá pela “estrada velha”, que vai sempre próxima das bordas dos cânions. Nos animamos, mas não sabíamos o estado da estrada para bicicletas, afinal, Bruno só passa ali a cavalo.

A estrada não era ruim, era péssima, muito mais pedras que a do dia anterior. Perigoso nas subidas e descidas… Como a distância que tínhamos a percorrer era novamente pequena, seguimos por ali, na esperança de ver mais algum cânion.

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Recompensa por tomar o caminho alternativo.

Apesar de acontecer mais uma viração que não nos deixou ver o Cânion Realengo, o caminho era lindo e mesmo tendo feito bem mais esforço, foi muito mais bonito e quase não passaram carros por nós.

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Daqui deveríamos ver o Cânion Realengo, mas…

Chegando no camping, que estava bem movimentado, afinal era carnaval,  fomos muito bem recebidos pelo Bêbo, o dono do Toca na Onça Eco Mountain. Após os acertos necessários, montamos nossa barraca, tomamos aquele banho e logo começamos a preparar nossa comida na cozinha compartilhada do camping.

Enquanto jantávamos, começavam os preparativos para um show ao vivo marcado para acontecer no camping naquela noite. A temperatura esfriou bastante e dormimos ouvindo boa música ao longe e com um bilhão de estrelas sobre nossas cabeças…

Amanhecer de segunda, saímos sem bagagem pra conhecer o Cânion Montenegro.

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Em direção ao Cânion.

Seguimos pela estrada de terra um pouco melhor que a do dia anterior, mas ainda pedregosa, sempre subindo e descendo, e em aproximadamente 1 hora e meia já estávamos na borda dele, com visibilidade total, espetacular!

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Cânion Montenegro, magnífico!

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E pra todo o lado que olhamos as paisagens são lindas!

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Caminho de retorno do Cânion Montenegro.

Após uma hora de apreciação e fotos, voltamos para o camping, onde almoçamos e de tarde partimos em direção ao Cachoeirão dos Rodrigues, onde há uma imponente cachoeira, famosa na série A Casa das Sete Mulheres exibida na Rede Globo. E também onde tem um ponto muito curioso que se chama “Encontro de dois Rios”. No ponto onde esses rios se encontram, um corre para um lado e o outro corre para o lado inverso. Muito curioso, e muito bonito também!

Chegando na localidade onde existem as duas atrações, escolhemos entrar no Cachoeirão dos Rodrigues, e àquela hora a temperatura já era de 27 graus, que após encararmos todas as subidas até lá nos deixou com muita vontade de um banho no rio.

Para entrar na propriedade paga-se uma taxa de R$10 e ao fazermos o pagamento pedimos informação à dona, indicação de um local para banho naquele rio lindo. Ela nos disse que na cachoeira é totalmente proibido, pois há risco de acidentes, mas gentilmente nos indicou uma parte do rio onde poderíamos aproveitar e nos refrescarmos.

Pronto! Ali ficamos mais de 1 hora, aproveitando o sol e aquela água transparente… Fantástico!!

Depois fomos visitar a cachoeira e iniciamos nosso retorno do passeio.

Antes de seguirmos para o camping, fomos até a comunidade do Silveira e lá já pegamos o carro pra levar ao camping. Assim, no dia seguinte já colocamos tudo no carro pra seguir pra Floripa, com um sorriso de orelha a orelha! 😀

Finalizando, foi um Carnaval incrível, pra cicloturista nenhum botar defeito!

OBS: Nós escolhemos acampar, mas na região tem bastante opção de pousadas. Vale a visita! 😉